"Desde o colapso do Socialismo, o Capitalismo ficou sem rival. Esta
situação anormal desencadeou o seu ganancioso e - acima de tudo - o seu
poder suicida. Agora a crença é que tudo - e todos - estão num jogo
justo."
- Günter Grass (1927 - 2015)
Nos últimos cinquenta anos, a esquerda e a direita liberal, tomaram literalmente de assalto tudo o que é lugar estratégica na nossa sociedade. Impuseram, como bons "democratas" que são e sempre foram, uma verdadeira lavagem cerebral à sociedade, sustentada por um controlo da informação implacável, que persegue e difama continuamente qualquer um que vá contra a corrente bem-pensante.
A direita conservadora/nacionalista (chamem-lhe o que quiserem!), não soube reagir adequadamente a nada disto e quando tentou fazê-lo, na maior parte das vezes acabou por meter os "pés pelas mãos". Em outras ocasiões e como ainda acontece, esta acobarda-se e tem medo de se assumir e fazer barulho. A agressividade revolucionária da esquerda e da direita liberal, só pode ser eficazmente combatida com uma igual dose de agressividade a todos os níveis, no fundo, o que se pretende é levar estas duas forças ao esgotamento tanto em termos argumentativos, como em termos psico-sociais.
A esquerda e a direita liberal (a segunda é filha da primeira...), têm muito mais em comum do que pode parecer à primeira vista e basta observar a ascensão da burguesia no século XIX e a forma como a mesma subverteu por completo o ancien régime - monárquico e ultra-conservador - para se entender como os liberais são eles próprios tão revolucionários e radicais, como o marxista mais aguerrido. A única coisa que muda são as cores, a linguagem e o estilo. Em tudo o resto tratam-se de revolucionários que são adeptos de mudanças sociais abruptas, radicais, violentas e que apenas no século XX passaram a ser "democráticas" por mera estratégia e conveniência.
Um homem da Idade Média que ouvisse a conversa dos "mercados" e da "liberdade económica", propagada por todos os liberais, neoliberais, ordoliberais, paleoliberais e restantes "ais", decerto concluiria que os mesmos estavam gravemente doentes do ponto de vista mental e/ou possuídos pelo Demónio. O mesmo valeria para o discurso de um marxista.
Ora, quer isto dizer que todas as revoluções e mudanças sociais são más? Com certeza que não! O Capitalismo e a "Nova Ordem" burguesa, suplantaram o ancien régime e trouxeram com eles uma Era de desenvolvimento económico, sem paralelo na História da Humanidade, mas também trouxeram muita porcaria por arrasto: os marxismos, fascismos, anarquismos, liberalismos, socialismos, nazismos e todos os restantes "ismos", são consequências directas da revolução burguesa e da ascensão do Capitalismo.
Ao destruir a velha ordem feudal, o Capitalismo trouxe o progresso para muitos pobres camponeses, mas simultaneamente, produziu uma classe de dependentes a viver nas cidades, que não possuem terra e por isso dependem totalmente de um salário pago por um burguês, de forma a que possam sobreviver. Esta dependência em muitos casos leva a uma situação de abuso por parte do burguês que insiste em pagar o mínimo possível ao trabalhador, aquilo a que se pode chamar o "salário de subsistência". Isto é, o burguês quando não é obrigado a fazer em contrário, paga sempre ao trabalhador o mínimo possível, o mínimo necessário apenas para garantir a sua subsistência e nada mais - não seria errado chamar a isto a Lei Económica da Selva, pois na prática, é disso mesmo que se trata...
Obviamente, que não é difícil de perceber quem capitaliza mais com esta extrema desigualdade salarial - o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista. Esta injustiça feita aos trabalhadores por parte de muitos empresários, serve de combustível à esquerda, que é quem mais ganha com o descontentamento e a revolta dos mesmos. E os trabalhadores têm, pois, motivos de sobra para se sentirem revoltados, pois não há qualquer justificação para que um CEO tenha um ordenado 33,5 vezes maior do que o dos seus trabalhadores. Alias, estou até plenamente convencido de que "se fosse possível e legal, a muitos patrões portugueses, não pagar qualquer salário aos trabalhadores, não tenho dúvida que o fariam; há mesmo patrões que exigem que as pessoas paguem para trabalhar." Por este mesmo motivo, não é possível prescindir do salário mínimo e fazer tal, resultaria não só num reforço imediato da extrema-esquerda, mas também num galopante e simultâneo aumento da pobreza, incompatível com o interesse nacional.
João José Horta Nobre
29 de Abril de 2016