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Francisco Rolão Preto, o fundador e líder do Movimento Nacional-Sindicalista, também conhecido pela designação de «camisas azuis» que usavam como uniforme, algures na década de 1930. |
"AOS PORTUGUESES!
No
mais atrabiliario dos atropelos ás próprias leis que promulgou, o
governo de Salazar fez expulsar de Portugal os Drs. Rolão Preto e
Alberto de Monsarez na logica sequencia da serie de perseguições que ao Nacional Sindicalismo e aos seus dirigentes vinha movendo.
Dos serviços que prestaram os dois homisiados e os muitos que nas cadeias de Lisboa e do Porto teem sofrido as violencias do governo, batendo-se e servindo a Ditadura, propagando e defendendo as ideias de que o Dr. Salazar se afirma paradigma numa enjoativa e custosa publicidade pessoal, não só não tem memória como não pode ter compreensão a clientela recenchegada de vendidos que rodeia S. Exa. e ante a sua complacencia, faz descer o nível da mentalidade portuguesa a uma pobreza que envergonha e a uma baixeza moral que repugna e aflige.
Não reconhecemos ao Dr. Salazar a infalibilidade de que se julga possuido ! É esse o nosso «crime» de Nacionalistas e de Portugueses.
O Dr. Salazar realisou uma obra indispensável de saneamento financeiro - mas, é em nome dum acerto de contas bem realizado, que Portugal ha-de sujeitar-se ao sobado inadmissivel dum homem que não se sabe o que quere, que não diz o que quere, nem que ocultos designios o conduzem na tirania que exerce?
Em nome da sua obra financeira - que Deus sabe que terriveis consequências trará ainda para a economia nacional asfixiada - terão de sujeitar-se os portugueses ao seu livre arbitrio de corruptor, e por êle á camarilha de famintos que mantem a grandes ordenados, enquanto se estala de fome, como quem serve ração dobrada aos mastins da sua quinta?
Porque as contas do estado estão hoje certas ha-de aceitar-se que um homem que deve ao Exercito a sua existencia e a sua força como politico, publica e permanentemente achicalhe a Fôrça Armada, só porque ela nem sempre faz côro com os «amens» da grande imprensa comprada e do bando de imorais que cerca e adula S. Exa.?
A corte negra e negociavel dos «padre-Marques», merecer-lhe-há mais respeito que o Exercito que salvou a Nação na hora gloriosa de 26 ? Ou sentir-se-ha o Dr. Salazar, perante ele, culpado da mesma politica mesquinha de amigalhaços, da mesma arbitrariedade e do mesmo compadrio que levou a levantar-se, já uma vez, a espada limpa do orgulho Nacional ?
Falemos claro !
Como em 26, peor que em 26, Portugal está entregue a uma ignominiosa oligarquia de metéques que a Censura protege e Salazar sustenta. A «União Nacional», como o antigo partido democrático, é uma agencia de empregos. O exercito e o seu esforço redentor vilipendiado e esquecido. Os Nacionalistas de sempre são perseguidos, presos, maltratados e expatriados. Até quando durará este estado de coisas ?
Breve se fará Justiça. Nessa certeza e com essa Fé lutamos e venceremos, certos de que acordará, duma vez para sempre, a consciencia dos que fizeram o 28 de Maio, dos que, á custa do seu esforço desinteressado, teem mantido uma situação de que intrusos querem apossar-se, indignamente.
Breve se fará Justiça. Basta um assopro violento que varra o cisco.
Lisboa, 24 de Julho de 1934.
UM GRUPO DE NACIONAIS-SINDICALISTAS REVOLUCIONARIOS [sic]"
Este comunicado do Movimento Nacional-Sindicalista (MNS) foi emitido em consequência da prisão do seu líder, Francisco Rolão Preto a 10 de Julho de 1934. Pouco depois, a 29 de Julho do mesmo ano, Salazar decretou a proibição do MNS alegando que o mesmo se baseava em certos modelos estrangeiros como o Fascismo Italiano. Em 1935, Rolão Preto e os últimos resistentes do MNS tentaram num último sopro de força organizar uma revolta armada contra o regime de Salazar (nomeadamente a tentativa de revolta do navio Bartolomeu Dias e do destacamento militar do Quartel da Penha de França), porém, os planos fracassaram e Rolão Preto viu-se obrigado a partir para o Exílio em Espanha, tendo o MNS morrido definitivamente a partir de então. De todos os grupos e movimentos nacionalistas que se bateram contra o regime de Salazar e estiveram mesmo dispostos a pegar em armas contra o mesmo, o MNS foi de longe o que mais sucesso obteve.
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A Cruz da Ordem de Cristo era utilizada como símbolo pelo Movimento Nacional-Sindicalista e era exibida nas braçadeiras das camisas azuis do uniforme. |
O MNS caracterizava-se a si mesmo como um movimento anti-burguês, anti-comunista, anti-liberal, anti-democrático, anti-capitalista, anti-conservador, familiar, municipalista, sindicalista, corporativista, representativo, autoritário e nacionalista.[1] A estética adoptada pelo MNS era baseada na mesma estética que estava em voga nos movimentos nacionalistas da época, nomeadamente a utilização da saudação romana e a utilização de «camisas azuis», em tudo semelhantes às «camisas negras» utilizadas pelos membros do Partido Nacional Fascista italiano. Apesar destas semelhanças estéticas com o Fascismo de Mussolini, o MNS nunca se assumiu como fascista, pelo contrário, o seu corpus ideológico era baseado na Doutrina Social da Igreja, no Personalismo Cristão, e no Integralismo Lusitano[2], colocando-se assim bem longe do Futurismo anti-tradicional e militarista que foi a base do Fascismo em Itália.
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Notas:
[1] SARAIVA, José Hermano - História de Portugal, Volume III, 1640 - Atualidade, p. 596.
[2] SARAIVA, José Hermano - História de Portugal, Volume III, 1640 - Atualidade, p. 596.
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Notas:
[1] SARAIVA, José Hermano - História de Portugal, Volume III, 1640 - Atualidade, p. 596.
[2] SARAIVA, José Hermano - História de Portugal, Volume III, 1640 - Atualidade, p. 596.
João José Horta Nobre
Dezembro de 2013